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01-Nem
a rosa, nem o cravo 02-O
primeiro beijo 03-Inveja
04-O Mendigo
05-Lágrimas
06-A carta
07-Mistério
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08-Pelas
ruas da vida 09-O
Lugar do sofrimento 10-O
Destruidor de pensamentos 11-A
Serpente e o Vagalume
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12-O
Carpinteiro 13-Par de sapatos
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O Destruidor de pensamentos
Paulo era um garoto pacato... Até demais para a família que lhe
abrangia. Sempre foi muito obediente, e por isso era o xodó de sua
família. Muito católica, essa não esperou muito tempo para impor no
jovem seu dogma e sem muito a questionar naquela idade, ele acatou.
Por toda a sua infância ele foi muito querido, e os jovens ao redor
dele ficavam espantados com tamanho empenho para realizar as coisas
que gostava de fazer, ou tinha, por obrigação, que fazer. Ele
conseguia conciliar um com outro e o produto de seus esforços sempre
eram aprazíveis. A sua família não poderia ter desejado melhor
filho, e todo o momento com aquele rapaz era motivo de gozo e
deleite.
Já aos 15 anos, na escola, Paulo mostrou-se o aluno mais brilhante,
e todos os professores muito o elogiavam, disseminando o ideal de
que o destino dele seria brilhante. Acatando o conselho, ele não
pode deixar de sonhar alto, e com isso, ingressou em muitos cursos,
tornou-se radialista e anos mais tarde ingressaria na faculdade de
direito. Não existe dúvidas de que o passado e o futuro profissional
de Paulo foram e serão repletos de realizações e conquistas sonhados
por todos.
Contudo, Paulo, como todos os seres humanos, apresentava defeitos, e
sua vida social não era tão plena como a sua profissional. Desde a
adolescência ele era evitado por algumas pessoas, por sempre revelar
abertamente seus desejos, ensejos e obrigações aderidos a ele por
vontade própria, proveniente de sua espiritualidade. Nunca deixava
passar nada em branco do que aprendia na catequese, depois os
encontros do grupo jovem e da pastoral da juventude, e também, do
crisma. Seus amigos e colegas tinham que se relacionar com ele por
motivos de boa convivência e sempre ficavam meio perturbados de
encontrá-lo, pois saberiam que qualquer deslize na conversa, levaria
inevitavelmente a um assunto sobre Deus e religião, e, ele iria
querer provar que a dele era melhor, e quem não aceitasse Jesus e a
Santa Igreja Católica ele logo apresentaria sua opinião única e
inquestionável, e assim, a maioria de seus amigos (pelo menos os que
evitavam e não aceitavam ser desrespeitados) mudariam de tópico e/ou
afastar-se-iam dele.
Mas não se sabe o que aconteceu, e sua juventude foi ressaltada por
um série de pensamentos sobre a devoção, e, o jovem tornou-se um
seguidor de Deus, que mesmo os homens mais religiosos sentiam
inveja. Paulo tomou a palavra de Deus para si, julgou-a como bem
entendeu com o auxílio da maior empresa/instituição do globo
terrestre, e tratou de repassar seus princípios para os outros com
uma convicção:
-Eu sou melhor do que os outros porque tenho Deus no coração. Eu
falo as verdades, quem aceitar; ótimo, quem recusar; péssimo (Isso
para não tratar de outros assuntos indesejáveis)...
Ele começou a reparar que as pessoas estavam se afastando de Deus.
Nesse mundo globalizado aceitar as tendências da mídia é como
cometer um dos sete pecados. Não! Paulo não agüentava ver que as
pessoas deixaram os valores passados pela igreja se esvair com o
tempo, e tratou de incorporar aos seus valores tais ideais. Mas ele
percebia que numa simples conversa seria muito difícil convencer
um(a) jovem em pleno estado de puberdade em que os hormônios
“saltavam para fora do corpo” a se converter e adotar os valores da
castidade e da pureza (Sim, os que são repassados pela Igreja!).
Então, porque não tentar mostrar para os outros que era melhor? Ele
pensou:
“Afinal, esse papo de que todos são iguais na Terra não deve
existir! Eu com Deus no meu coração vou me igualar a um jovem que
vai para o Baile Funk, traça as meninas a cada fim de semana e tem
valores e princípios que Satanás aprecia? Não! Eu sou melhor do que
eles”.
E por isso, ele tratou de mostrar seus títulos. Sua ajuda seria
apenas para um tipo de gente. A que aceitasse suas imposições!
A rigor de sua juventude, ela não era muito badalada! Sempre passou
muito tempo correndo atrás de seus desejos (sempre baseados em Deus
e em suas religiões), pois o dia do julgamento final, ou mesmo o dia
que ele fosse arrebatado era a melhor e mais forte sensação de
prazer que ele sentira.
Tudo era belo para ele, mas ele não percebeu no que estava se
tornando! Sua obediência serviu-lhe de castigo, pois por ela, nunca
questionou o que era passado para si, em especial tratando-se da
Bíblia. E ele vaga acreditando que tudo o que está nela é
verdadeiro! Deus que é sábio usou os homens para escrevê-la, cada um
em sua época. Mas ele não se importava se Adão e Eva ou a abertura
do Mar Vermelho foram metáforas. Para ele, não importava se o povo
atravessou na maré baixa ou não! O que sempre importou para ele foi
a consistência e soberania do poder de Deus. Se ele era realmente
grande, ele realmente fez todos aqueles milagres como descrito, no
caso, “tim-tim por tim-tim”. Ele não louvaria um divino que assim
não fosse.
E sua história está sendo escrita dessa forma. Ele acredita com
força que todos os seres humanos tem que aceitar Jesus. Ele quer ver
todos os jovens castos, pois os homens não são animais e Deus
cobrará isso deles. O significado de pureza não é amor, é a falta de
sexo como escrito na Bíblia e passado pelos papas, bispos e todos
esses eclesiásticos ou diocesanos.
Paulo quer o mundo do seu jeito. Se não o quisesse não tentaria
expor suas opiniões como faz. Mas isso é outra qualidade dele, pois
muitos querem isso. Estranho é o ser humano que não tem esse desejo.
Por outro lado, uma vez que foram criadas leis e boas condutas e
maneiras de liberdade de expressão, ele não pode mais prolongar esse
devaneio. Mas para ele não é suficiente, pois o homem não deve
aceitar as coisas vindas do homem, mas apenas de Deus.
Se Deus acha que os ímpios merecem morrer queimados e ele tivesse
uma oportunidade de matar os ímpios queimados, ele não hesitaria.
Para ele vale o que é passado pelo Papa e pelos comandantes da
Igreja. Há de se seguir tudo ao “pé da letra”.
Por isso, Paulo não vê exagero em demonstrar seu desprezo por quem
ele não suporta. Se alguém o critica, esse alguém merece ir pro
inferno, pois ele tem Deus no coração e quem tem Deus no coração
está sempre certo. E assim, por muito, viverá esse homem.
Se há algo verdadeiro, é que ele não desistirá de tentar provar para
os outros que está certo, pois a certeza e a verdade de Deus é o que
devem ser mostradas. Ele não sabe o porquê, mas é nisso que
acredita...
Certo dia, Paulo gostou da idéia de escrever textos sobre sua crença
e ele fez no maior estilo: “Leiam e admitam isso como razão para
vida!”, visto que ele nunca deixava faltar seu carimbo no rodapé
direito revelando seus cursos e seus títulos. Para ele, ver uma
crítica pequenininha é o mesmo que pegar uma estatueta de Jesus
Cristo, cuspir nela e incendiá-la em seguida, não esquecendo de
oferecer as cinzas ao demônio.
Não! Paulo só falava verdades. Então, por que os sábios iriam
desmerecer as verdades dele? Deviam ser meros ateus ou satanistas
que queimariam no inferno, ou seja, nenhum motivo para respeitá-los
e/ou dar crédito a suas alegações. E isso ele sabia fazer muito bem.
Sem perceber, Paulo desrespeitou milhares de criaturas com seus
escritos e seus valores. Insultou mães de famílias, jovens que
buscam ser alguém na vida, jovens que procuram ter o prazer ao lado
de seus(suas) namorados(as), e a mulher também, tornando-se um
machista. Ele sabia disso! Mas se a Igreja, a maioral, assim era,
porque ele seria diferente? Não deveria, e, jamais seria e/ou será
com aquela mentalidade.
Mas algo aconteceu nessa fase de sua vida. Parece que os vermes que
ele tanto criticou conseguiram mexer com sua cabeça. Paulo recebeu
muitos comentários negativos. Muitas rejeições aos seus princípios.
Ele não conseguira esconder isso, pois rebateu os comentários no
estilo: “Eu estou certo e vocês é que se fodam”!
Revoltado ele decidiu escrever também e retratar a vida desses seres
símios que acreditam na teoria da evolução e não em Adão e Eva.
Mencionou tantas verdades (apenas para ele) que ficou satisfeito...
Foi até elogiado por um mero escritor...
Mas ele não consegue perceber que essa realidade é nefasta. Ele
sempre acredita estar por cima, enquanto dezenas de vermes estão
fazendo chacota e gargalhando de seus valores. Ele sempre vai
acreditar que está certo e que essa multidão de tolos seres são os
errados. Mas isso é o de menos para Paulo. Ele ganha apoio de quem
precisa, mas mal sabe que mesmo alguns seres que ele admira, não
suportam mais os seus ideais preconceituosos! Mas não adianta. Ele
sempre será o mesmo. Quem sabe, em sua lápide, o epitáfio seja:
-Deus, perdoai esses idiotas, eles são tolos e não sabem o que dizem
nem o que fazem.
Mas uma coisa Paulo não sabe. Enquanto ele acredita ser o grande,
ele não está se elevando, e nunca chegará a ser um terço do que é no
meio profissional... Que só se sabe dele, por meio de diplomas e
títulos, não por meio de seus ensinamentos.
Mas Paulo mudará... Esse pelo menos é o desejo de cada ser que
entende que respeito não é só expressar, mas sim, denotar! Só que
mal sabem esses seres utópicos que Paulo não mudará nada. A verdade
de Deus é uma, e para ele é simples:
-Se és servo, mereces tudo de bom, se não és, tens a chance de se
tornares, se ainda não quiseres ser, mereces tudo de ruim.
Para ele as histórias que divergem de seus princípios entram por uma
orelha e saem pela outra, e quem quiser que conte uma diferente...
Mas se não for para agradá-lo, nem o façam, ele não suporta...
Ele quer devorar as nossas mentes e pelo jeito vai conseguir!
Depende de você aceitar ou não...
(desconhecido)
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