---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
01-Nem a rosa, nem o cravo   02-O primeiro beijo   03-Inveja   04-O Mendigo   05-Lágrimas   06-A carta   07-Mistério
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
08-Pelas ruas da vida   09-O Lugar do sofrimento   10-O Destruidor de pensamentos   11-A Serpente e o Vagalume
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
12-O Carpinteiro   13-Par de sapatos
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

 


 A Carta

Durante uma longa noite de insônia, pensei em escrever uma carta.
Uma carta que tudo revelaria e explicaria. Uma carta em que todos
meus sentimentos e pensamentos ali estariam. A noite se passou longa e fria, só eu, meus pensamentos e o silêncio. Nada mais.
Após o término desta, já era dia; apressei-me, então, para que pudesse colocá-la
no correio antes de ir ao trabalho. Pronto, estava feito, a carta já iniciara seu
caminho.
Fui ao trabalho pensativo, preocupado talvez com a reação que teria essa
pessoa quando a lesse. Passei o dia todo só a pensar, refletir. Critiquei-me
muitas vezes, pois talvez fosse melhor escrever de outra forma, mas era tarde,
já havia entregado-a ao correio.
Ao chegar em casa, fui direto ao banho. Demorei mais de uma hora. Só a água
quente do chuveiro e o silêncio do meu apartamento me confortariam, me
aliviariam a apreensão. A carta passaria por várias cidades antes de chegar ao
seu destino final, meu medo, ou talvez esperança, era de que ela se perdesse no
caminho.
De banho tomado fui até a cozinha preparar meu jantar. Depois do jantar
deitei-me, pois o dia seguinte seria exaustivo.
Acordei, ouvi a campainha, fui até a porta e abri, ali estava o destinatário de
minha carta, ou melhor, a destinatária. Ana estava ainda mais linda do que na
última vez que nos vimos, seus olhos azuis me fitavam, seu olhar me tomava de
tal forma que eu não conseguia escapar. Manhã de terça-feira, eu não pensava
em nada mais a não ser em abraçá-la e beijá-la fervorosamente. Acordei.
Sonho. Nada disso era real. Estava frustrado, decepcionado. Não, não era a
minha Ana que ali estava, só havia eu e o silêncio.
Fui então me aprontar para o trabalho. Trabalhei o dia todo. Cheguei exausto.
E com a esperança de haver uma correspondência para mim, a resposta de
minha carta. Mas não havia nada. E assim foram se passando os dias, e até hoje
nenhuma resposta, nem a devolução de minha carta, nada. Nada que me
conforte o espírito.
Não sei se a carta se perdeu, ou se Ana a leu. E se leu, não sei por que não me
respondeu. Acho que nunca saberei ao certo seu destino.
 

(Marcella de Queiróz Moraes)


 

 

Celi Poesias...Um cantinho Especial
www.celipoesias.net