Soneto De Separação
(Vinicius de Moraes)
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
Soneto do amigo
(Vinícius de Moraes)
Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...
Eu Não Existo Sem Você
(Vinicius de Moraes)
Eu sei e você sabe,
já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
levará você de mim
Eu sei e você sabe
que a distância não existe
Que todo grande amor
só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor,
não tenha medo de sofrer
Pois todos os caminhos
me encaminham prá você
Assim como o oceano
só é belo com o luar
Assim como a canção
só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
só acontece se chover
Assim como o poeta
só é grande se sofrer
Assim como viver
sem ter amor não é viver
Não há você sem mim,
eu não existo sem você
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