O poeta não precisa ser boa-pinta
Mas tem de escrever coisa supimpa.

Não precisa ser um Humphrey Bogart
Contanto que componha uma bela obra.

Que se chame João, José, Almir
Sob a condição de que saiba escandir.

Não importa se branco, índio, preto
Mas tem de compor um belo soneto.

Não importa se pardo, moreno ou louro
Se o soneto culminar em chave de ouro.

O poeta pode até ser meio franzino
Mas tem de compor em alexandrino.

O poeta pode ser coxo ou manco
Mas que se esmere no verso branco.

Ao falar, quem sabe seja gago?
Mas ao escrever tem de ser um Machado.

Na vida real pode até ser vulgar
Mas na poesia tem de saber rimar.

O poeta pode até ser casmurro
Mas precisa escrever com apuro.

O poeta pode até ser ferino
Se compuser como manda o figurino.

Admite-se um poeta pecador
Mas tem de escrever com vigor.

Pode esquecer aberta a barriguilha
Contanto que componha redondilha.

Tudo bem que seja bonachão
Se escrever do fundo do coração.

Que seja porventura malandro
Contanto que componha um ditirambo.

Quem sabe seja um paxá?
Mas não pode escrever rima má.

Não é preciso ser trovador
Mas não vá rimar "amor" e "dor".

O poeta pode até ser palhaço
Contanto que nos eleve ao Parnaso.

Do poeta não se exige origem nobre
Contanto que evite a rima pobre.

Que se meta, vez ou outra, num entrevero
Contanto que escreva com esmero.

Pode até ser meio que "filha-da-puta"
Mas tem que escrever coisa batuta.

O poeta pode ser meio cavalar
Contanto que evite a rima vulgar.

Tanto faz se de esquerda ou direita
Contanto que a rima seja perfeita.

No dia-a-dia pode até ser trapalhão
Mas na métrica tem de ser campeão!

 

 

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Celi Poesias